Faltaram cadeiras para todos que se interessaram e compareceram ao Centro Comunitário de Barra do Riacho, em Aracruz, nesta quarta-feira (12). O motivo: a Fundação Renova, entidade criada para gerir o impacto do rompimento da barragem da Samarco, em Mariana (MG), ocorrido no dia 5 de novembro de 2015, convocou uma reunião para esclarecer as dúvidas acerca do Programa de Indenização Mediada (PIM).
Diversas perguntas surgiram por parte dos pescadores profissionais, única categoria convocada para a reunião, embora o impacto econômico com o rompimento da barragem da Samarco seja sentido por toda a população dos distritos de Aracruz.
Em cada conversa há uma história de prejuízos e dificuldades. O que havia em comum e relatado por aqueles que pediram a palavra é a espera pela indenização para tentar diminuir as perdas que já se fazem incalculáveis.
Um dos relatos emocionantes foi do presidente da Associação de Moradores de Barra do Riacho, Israel Azeredo.
"Nós não temos nada a ver com a Samarco. Nem sabíamos que ela existia, até que o rompimento da barragem veio acabar com nossos peixes. Hoje temos pessoas com sérios problemas de alcoolismo e depressão, tudo resultado desse problema. Por culpa da empresa temos alto índice de metal nas águas. A comunidade me cobra. Não tem como esperar", desabafou o líder comunitário.
Outro relato de perda foi da pescadora Diolete Coutinho, que tanto pescava no rio quanto no mar.
"Minha filha passou quatro anos estudando muito para passar no Enem. Agora que ela passou no Ifes, enfrentamos a dificuldade de locomoção dela para ir estudar. Antes eu estava trabalhando e sempre tinha dinheiro. Agora tenho que fazer faxina. Isso quando aparece uma para fazer", lamentou a pescadora.
A pescadora trabalha ao lado de outras mulheres que sofreram com o impacto da avalanche de rejeitos que se espalhou pelo Rio Doce e atingiu a costa capixaba, como é o caso de Rosa Pereira, Rosana Barbosa e Vandinalva Cruz Monteiro.
"Nós tínhamos um barco que hoje está estragando porque não temos onde pescar", desabafou Vandinalva.
No caso de Sandro Trevizani, além de perder com a falta de pescado, ele teve que fechar o comércio.
"Eu oferecia janta para o pessoal da estiva. Mas com o desastre, meu comércio fechou as portas, vendi a caminhonete, vendi meu freezer e hoje vivo de ajuda da minha família", relatou o comerciante.
O vice-presidente da Associação de Moradores do Bairro São Pedro, Pindorama e Chic-Chic, Álvaro Antônio Amorim Filho, foi mais incisivo.
"Continuo com muitas dúvidas. Não aguentamos mais ser enrolados. Eles já fizeram muitas reuniões, fizeram uma comissão que não foi respeitada", apontou.
RENOVA
Criada para gerir ações para a devida indenização das famílias impactadas, a Fundação Renova se negou a responder no local da reunião aos questionamentos da Rádio Voz do Piraqueaçu.
Representante da Renova, Arthur Calegário, disse que todos no local estavam impedidos de responder qualquer pergunta da imprensa.
Ainda assim, a reportagem permaneceu na reunião até o final, quando foi informado pelos representantes da fundação que a partir da próxima semana darão início à antecipação de reparação de danos, não se tratando, portanto, da indenização que a Samarco deve às famílias atingidas.
Os representantes deixaram claro que não existe uma sequência lógica de quem receberá a antecipação, mas haverá uma diferenciação no valor do pagamento da antecipação.
Antecipação
Donos de barco com motor de centro - R$ 23.100,00
Donos de barco com motor de polpa - R$ 14.850,00
Donos de barco com motor de rabeta - R$ 11.550,00
Tripulantes - R$ 6.600,00
Obs.: Os valores para os demais setores atingidos pelo rompimento da barragem da Samarco não foi divulgado.