Em conversa realizada por meio eletrônico, a deputada Iriny Lopes (PT) e as lideranças Paulo Tupiniquim e Vilson Jaguareté puderam expor nesta quinta-feira (23 de julho) as dificuldades enfrentadas pelos povos indígenas durante a pandemia do novo coronavírus. Paulo Tupiniquim, que é da aldeia Caieiras Velha é coordenador geral da Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), e Vilson Jaguareté também é de Caieiras Velha e membro da Comissão de Caciques Tupiniquim e Guarani.
Durante uma hora e dois minutos a parlamentar e os indígenas demonstraram a preocupação com as vidas dos cidadãos nesse período e com a situação vivida pelos povos que dependem da agricultura familiar, do artesanato e principalmente da água.
“A água é um dos principais remédios contra o coronavírus. E tem pessoas que ficaram desempregadas por causa da pandemia e agora querem cortar o acesso à água potável. Não podemos ficar inertes diante disso. Não se pode proibir o acesso à água. Então, é preocupante os descasos do município”, alertou Paulo Tupiniquim.
Outro dado preocupante é referente ao número de casos de indígenas com a Covid-19.
“Aqui (em Aracruz) os primeiros casos que tivemos de pessoas que contraíram o vírus não entraram no registro. Exemplo: não indígenas casados com indígenas e que foram contaminados não foram contabilizados. A contabilização tem que ser dos dois, do indígena e do não indígena”, apontou o líder.
Para Vilson Jaguareté, a pandemia chegou para desnudar alguns problemas antigos das populações indígenas.
“A pandemia veio para ensinar lições e mostrar para a população como está precária a saúde indígena. Precisamos de políticas públicas boas e eficientes. Existe política pública para os povos tradicionais, mas não política pública específica para os povos indígenas”, apontou Vilson.
Ele também ressaltou que os guaranis vivem de seus artesanatos e que nesse momento está difícil de vendê-los.
A deputada Iriny Lopes sugeriu que os indígenas façam um intercâmbio com o Movimento dos Pequenos Agricultores, que conseguiu articular a venda de seus produtos pela internet.
“As pessoas conscientes não estão se expondo. O distanciamento social é muito importante nesse momento. Mas acredito que é possível uma ajuda do MPA para que os indígenas possam negociar seus artesanatos”, opinou a parlamentar.
Iriny ainda acrescentou:
“A pandemia rasgou os véus e deixou tudo muito claro. A sociedade precisa repensar sua postura e ter respeito com os povos tradicionais. Os indígenas são muitos e são discriminados, então é hora de todos reverem posturas, posicionamentos”.
Antes de encerrar a transmissão, a deputada abriu espaço para as considerações finais dos líderes indígenas.
“Acredito que esteja na hora do Estado pensar uma política pública diferenciada. Nossos jovens querem estudar e não possuem internet, por exemplo. Eles usam internet de seus celulares, o que é muito ruim. Então, o Estado pode ver se resolve esse problema. Mas isso é só um exemplo. Somos índios, mas somos cidadãos. Pagamos nossos impostos e merecemos ter nosso direito respeitado”, finalizou Paulo Tupiniquim.
“Estamos em período pré-eleitoral, então é hora de todos analisarem como vão se posicionar com relação aos povos indígenas. É preciso mais consciência para corrigir diferenças que existem no país”, completou Vilson Jaguareté.