A queda de braço que se repete a cada ano, quando se iniciam as discussões em torno do reajuste de tarifa do transporte coletivo, desta vez deixou mais exposto o abismo social que existe entre a população da Orla e o restante da população do município. Durante reunião do Conselho Municipal de Trânsito e Transporte (COMTRAT) surgiram três opções de aplicação de valores na tarifa.
Tarifa de R$ 6,00 para toda a extensão do município foi a opção apresentada pela Defensoria Pública e pelo Sindicato dos Servidores Municipais de Aracruz (Sisma). Em seu discurso o defensor público Alexandre Paganni expôs o grito que fica entalado na garganta de todo morador do bairro Rio Preto, por exemplo, que desembolsa quase R$ 13,00 para ir à Sede.
“Infelizmente qualquer coisa que se vai resolver como bancos, Prefeitura e demais órgãos e poderes (TEM, DPE,PCES, Poder Judiciário, MPES, etc.) o munícipe precisa ir até a Sede do município. Cumpre lembrar que, historicamente, o município de Aracruz teve sua colonização originada na região da Orla. Outro ponto que merece atenção e balizamento para a justeza na tarifa de transporte público municipal é o fato de que a região da Orla é a que mais traz caixa, retorno financeiro, receita ao município de Aracruz, pois é onde estão instaladas as principais empresas”, apontou o defensor público.
E ele ainda acrescentou:
“No entanto, historicamente, a população da Orla da cidade é a mais prejudicada na prestação de todos os serviços públicos, principalmente no que concerne o transporte público e serviços essenciais da Prefeitura, pois a PMA nunca descentralizou parte da administração municipal para atender a região que é, além de tudo, a mais habitada do município. Para se pedir qualquer documento junto a PMA necessário se faz ir até a Sede do município”.
Ainda na defesa da tarifa única, Paganni apontou a questão do Hospital de Pequeno Porte da Barra do Riacho, que teve equipamentos levados para hospital localizado na Sede.
“Entra administração e sai administração e o descaso é o mesmo”, disse Paganni, quase em tom de desabafo.
“Se o município de Aracruz fosse somente a Orla, não tenho dúvida em dizer que o sistema Transcol já estaria servindo a região, pois ele vem até o Portal de Aracruz, na região de Rio Preto, e a proximidade com as grandes empresas é inquestionável. Sendo hoje a Sede o grande empecilho do sistema Transcol na cidade”, citou o defensor público.
O COMTRAT obteve outras duas opções de reajuste tarifário. A opção defendida pela Secretaria de Transportes e Serviços Urbanos é um reajuste de 10% na tarifa distrital e 20% na tarifa da Sede sem subsídio do Município. Já a opção defendida pelo Sindirodoviários e pela Secretaria de Obras, é um reajuste de 10% na tarifa distrital e 20% na tarifa dos ônibus que circulam na Sede, mas contando com o subsídio do Município.
A reportagem da Voz do Piraqueaçu buscou resposta da Prefeitura de Aracruz para a questão do reajuste tarifário. A PMA também foi questionada sobre o protocolo com o pedido de integração do município à Região Metropolitana da Grande Vitória e sobre a possibilidade de solicitar junto ao Governo do Estado e à Assembleia Legislativa tal integração.
“Trata-se de um assunto complexo no qual precisa-se analisar todos os itens que compõem a inclusão na região metropolitana”, diz a nota explicativa emitida pela Secretaria de Comunicação da PMA.
Quanto ao reajuste tarifário, a resposta ainda não deixa a população tranquila.
“O prefeito municipal nomeou uma comissão técnica para realizar o estudo de tarifas do transporte público de Aracruz e após concluir os estudos, foram convocadas duas reuniões do COMTRAT para apresentação e análise dos trabalhos da comissão. Nesta reunião foram apresentadas três propostas, das quais o conselho em sua maioria votou pela proposta de 10% de reajuste na tarifa distrital e 20% na tarifa do circular dentro da Sede e sem subsídio”, expõe a nota da PMA.
A nota ainda diz: “Foi realizada uma reunião, no gabinete do prefeito, com a presença de secretários, procuradores e membros da comissão técnica, que apresentou o resultado do estudo da tarifa. O próximo passo será a apresentação à Câmara de Vereadores para conhecimento de todos e, posteriormente, a publicação do decreto (do prefeito)”.
OPINIÃO DA VOZ DO PIRAQUEAÇU
Acompanhamos com interesse o desenrolar da questão do reajuste tarifário em Aracruz, em especial, a tarifa que atinge a população da Orla.
Aliás, o discurso do defensor público Alexandre Paganni corrobora com o que a Voz do Piraqueaçu vem há quase quatro anos destacando em matérias sobre a questão do transporte público municipal.
É preciso voltar o olhar para a população que tanto luta para sobreviver, principalmente, nesses tempos sombrios de pandemia. E pagar uma tarifa de quase R$ 15,00 para uma ida à Sede e outra de igual valor para retornar para casa é algo que está acima da sensatez.
Como gostamos de ser a voz da comunidade, a voz do cidadão, é preciso que os representantes do povo coloquem a mão na consciência e lembrem-se de que parcela dos votos que os elegeram saíram do povo pobre que vive na Orla e abastece com seus impostos os gordos salários de seus bolsos e dos bolsos de seus comissionados.
Quem vive na Orla tem as benesses do ar marinho fresco, mas convive dia a dia com o fantasma do desemprego. Desemprego este que é alimentado pela distância da Sede e o alto custo da tarifa de transporte. Recentemente um dos nobres edis encheu a boca para dizer que o comércio local gera cerca de 22 mil postos de trabalho. Certamente, essa parcela dos empregos gerados não estão com ocupação de moradores da Orla.
Até porque, quando um candidato a emprego na Sede informa que mora na Orla é rapidamente descartado por conta justamente da tarifa de ônibus que teria que bancar.
Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos da novela chamada “Transporte Público de Aracruz”.
Prefeito despreparado, fraco e manipulado pela filha e genro. E a Câmara Municipal por sua vez, com mais uma leva de analfabetos Funcionais(é a incapacidade que uma pessoa demonstra ao não compreender textos simples. Tais pessoas, mesmo capacitadas a decodificar minimamente as letras, geralmente frases, textos curtos e os números, não desenvolvem habilidade de interpretação de textos e de fazer operações matemáticas).
Ótima matéria. Os munícipes de Aracruz, com a paralisação dos ônibus em 2019 já deixaram claro o poder de luta e resistência perante a questão do transporte público municipal. O povo continuará na luta por um transporte público de qualidade e acessível no bolso de todos. Absurdo o valor atual, e mais ainda, o novo reajuste do valor da passagem.
Pior empresa de transporte público,e a prefeitura omissa,não respeita os moradores da orla que precisa do transporte público.