Primeiro foi a mudança de data em 2018 e agora em 2019 é a expectativa frustrada da festa pela passagem dos 463 anos de Santa Cruz. Apontado por estudiosos como um dos lugares mais antigos do Brasil, o distrito ganhou em 2015 uma lei que estabeleceu o último final de semana de agosto como data para as comemorações, tendo sido incluído no Calendário Oficial de Eventos do Município de Aracruz. Mas, a Prefeitura alega falta de “condições orçamentárias possíveis” para cumprir a lei.

Em 2018, a festa comemorativa foi realizada no feriado de 7 de setembro, tendo sido descumprida a lei 3.976/2015, que dispõe: “art. 1º - fica instituída, a comemoração ao aniversário de Santa Cruz, no último  final de semana do mês de agosto e incluído no calendário oficial de eventos do município”. 

Ao ser procurada pela reportagem da Voz do Piraqueaçu a Secretaria de Comunicação da Prefeitura enviou nota explicativa.

“A Secretaria de Turismo e Cultura tem trabalhado o seu projeto cultural e turístico para, nas condições orçamentárias possíveis, promover sua execução”, informa um trecho da nota.

Em outro trecho a SECOM informa que não promoveu qualquer divulgação do evento.

Para a antropóloga Geovana Tabachi Silva, que viveu em Santa Cruz e visita sempre seus pais que moram na localidade, a não realização da festa representa uma desmobilização da comunidade que tem a expectativa de se reencontrar.

“Eu lamento que a festa de Santa Cruz tenha sido cancelada. Os eventos festivos são momentos em que a sociedade se faz, é o momento em que a vida coletiva se afirma, que ela se atualiza. Então, é um momento em que as pessoas se encontram, falam de suas vidas, reveem conhecidos”, considerou ela. 

Ela relembra de festas na cidade que a montagem de palcos não era necessária. Bastava utilizar o que de mais característico havia em Santa Cruz: a balsa.

“Quando eu era garota, a gente fazia roupa para a Festa de Santa Cruz. Era a roupa de dia, roupa da tarde e roupa da noite. A gente tinha a hora para ver a natação, hora para ver o show à tarde. Então, tenho memórias belíssimas, memórias muito bacanas da festa, dentre elas o show flutuante de Luizinho Taj Mahal na balsa. É lamentável que se desmobilize uma comunidade toda que estava prestes a se encontrar”, lamentou.

Existem registros na história e na memória de moradores da localidade em que a Festa de Santa Cruz era realizada exatamente no dia 15 de agosto, comemorando o Dia de Nossa Senhora da Penha no distrito, como conta um dos moradores mais antigos do lugar, o aposentado Olival Coutinho Silva, pai da antropóloga.

“A Festa de Santa Cruz sempre aconteceu no dia 15 de agosto. Se a data caísse no meio da semana, pois era no meio da semana que havia a comemoração”, lembrou o aposentado de 84 anos.

Em outro registro turistas lembram da época em que as comemorações religiosas eram feitas em um final de semana inteiro, após o dia 15 de agosto. 

“Havia a Aurora Festiva, a partir de 5 horas da manhã, quando o sino da igreja (Igreja Nossa Senhora da Penha) tocava e as pessoas saíam em procissão. Era muito bonito e muito legal também”, lembrou o turista Nelson Tadeu Menegucci, que visitava a cidade na década de 1980.

Se para os turistas, a não realização da festa este ano foi triste, para os comerciantes locais a falta dos festejos representa prejuízo.

Com suas identidades preservadas, comerciantes disseram que aguardavam a festa dos 463 anos de Santa Cruz para ter a oportunidade de sair do vermelho.

“Esta semana estávamos nos preparando para comprar uma quantidade maior de material para movimentar o nosso comércio”, disse uma comerciante.

“No ano passado juntaram o feriado de 7 de setembro e a Festa de Santa Cruz. Poderíamos ter faturado melhor com dois finais de semana mais movimentados. Mas este ano nem no aniversário da cidade poderemos faturar, já que não terá nenhuma atração”, reclamou outro comerciante.

Por meio de ofício, o vereador Romildo Broetto (PV)  cobrou resposta da secretária de Turismo e Cultura de Aracruz, Flávia Cândida Ferreira dos Santos, sobre a realização dos eventos festivos, principalmente porque recebeu questionamentos por parte de moradores e de comerciantes locais.

“O evento faz parte do Calendário oficial de Eventos do Município de Aracruz, de acordo com a Lei Municipal n.º 3.974/2015, além disso, é de fundamental importância para movimentar a economia do comércio local, atraindo turistas e gerando emprego e renda para nossos munícipes”, justificou o parlamentar no documento.

Em recente conversa com a secretária, o vereador Romildo indagou sobre a festa e a resposta sobre sua realização foi negativa.