Foi preciso a ação de moradores da Praia do Sauê, em Aracruz, para impedir que a máquina do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) do município continuasse abrindo uma rua do bairro nesta sexta-feira (8 de junho). O problema visto por quem mora na localidade é que a tubulação de esgoto da autarquia municipal iria desaguar no rio Sauê.
Logo pela manhã, os moradores ouviram o barulho de um trator e imediatamente tomaram suas cadeiras e se sentaram no meio da rua para impedir que a máquina do SAAE continuasse escavando a rua para, segundo eles, colocar um duto de esgoto.
Esta é a segunda vez na semana que os moradores foram surpreendidos com a ação de máquinas. Na terça-feira (5 de junho), uma máquina não identificada abriu uma clareira no meio da mata localizada na Área de Preservação Permanente (APP) existente no bairro.
"Foi uma tristeza só. Foram vários miquinhos correndo no meio da nossa rua assustados. Vários ninhos de guaxos foram retirados do local. Nesse rio (Sauê) as nossas crianças tomam banho e brincam até de noite", contou a moradora Sueli dos Reis Abrantes.
Enfermeira aposentada, Sueli Abrantes carrega em sua história participação em movimentos ambientais importantes como o Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente de Vitória, representante do bairro Joana D'Arc na questão da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da Cesan que seria instalada no Vale do Mulembá, além de membro do Conselho Popular de Vitória.
"Na terça-feira fomos surpreendidos com uma máquina e aquele absurdo no meio da mata. E hoje começaram a abrir a rua. Questionei a equipe de fiscalização. Perguntei por quê eles começaram essa obra sem consultar os moradores. Cadê os documentos de licença ambiental para fazer isso. Cadê as audiências públicas? Se licenciaram a obra, onde estão os documentos", questionou Sueli.
A moradora Janaína Perim é também a 1ª secretária da Associação de Moradores da Praia do Sauê. Ela disse que a Associação procurou saber de quem era a obra.
"O SAAE se manifestou se dizendo responsável e deram o prazo até hoje (sexta-feira) para apresentar a documentação com a autorização para fazer isso (abertura da mata), mas não vieram", disse a moradora.
Sensível com as questões ambientais, a moradora Egéria das Graças Cristiano Rangel contou que esse tipo de ação contra o meio ambiente a deixa profundamente abalada.
"Imagine que arrancaram vários ninhos de guaxos (tipo de pássaro) e os pobres animaizinhos tiveram que sair correndo da mata. Foi uma tristeza só. Aqui também tem muito goiamum (animal ameaçado de extinção)", contou Egéria.
"Temos um planeta só e vou lutar pelo meu metro quadrado", frisou Sueli.
O vice-presidente da Associação de Moradores, Rodinei da Silva Gonçalves, explicou que a área devastada na última terça-feira pertence a uma grande empresa da região.
A assessoria de imprensa da empresa foi procurada pela reportagem da Web Rádio Voz do Piraqueaçu e disse que se pronunciará sobre o assunto na próxima segunda-feira.
Já o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Aracruz foi procurado, por meio da assessoria de Comunicação e Marketing da Prefeitura Municipal, mas até o encerramento da matéria não enviou qualquer explicação.
O Ministério Público Federal, também por meio da sua assessoria de Comunicação, informou que os órgãos ambientais têm a responsabilidade pela apuração do fato.
"De qualquer forma, denúncias à Procuradoria podem ser feitas pelo site www.cidadao.mpf.mp.br ou pessoalmente, em qualquer unidade do Ministério Público Federal", encerra a nota do MPF.
O Ministério Público do Estado do Espírito Santo também foi procurado para falar sobre o assunto, mas também não enviou resposta.
Observação:
O vídeo abaixo mostra o momento em que a máquina do SAAE está tapando o buraco da rua.